

Indignação após veto dos EUA na ONU a resolução a favor de cessar-fogo em Gaza
Os Estados Unidos, determinados a proteger seu aliado israelense, provocaram nesta quarta-feira (4) a indignação dos demais membros do Conselho de Segurança após um novo veto que bloqueou um pedido de cessar-fogo imediato e acesso humanitário a Gaza.
O projeto recebeu 14 votos a favor e apenas o dos Estados Unidos — um dos cinco membros permanentes com poder de veto — contra, sendo este o primeiro veto da administração de Donald Trump.
Esse veto "envia a perigosíssima mensagem de que as vidas de 2 milhões de palestinos (...) não importam", disse o embaixador paquistanês, Asim Iftikhar Ahmad, que considerou que isso dá "luz verde para o extermínio" da população de Gaza e constitui uma "mancha moral na consciência" do Conselho.
"O silêncio não pode defender os mortos, não pode amparar as mãos dos que morrem, não pode enfrentar o funcionamento da injustiça", acrescentou seu homólogo argelino, Amar Bendjama.
"No momento em que a humanidade está sendo colocada à prova em tempo real a partir de Gaza, este projeto de resolução nasce de nosso senso compartilhado de responsabilidade. Responsabilidade com os civis de Gaza" e os reféns, e "responsabilidade com a história", declarou por sua vez o embaixador esloveno, Samuel Zbogar. "Chega!", exclamou.
Enquanto França e Reino Unido expressaram seu "pesar" pelo resultado da votação, o embaixador chinês, Fu Cong, criticou diretamente os Estados Unidos, pedindo que "abandone os cálculos políticos e adote uma postura justa e responsável".
Silencioso sobre o caso há um ano, o Conselho não consegue se unir para falar em uma só voz desde o início da guerra de Israel contra o movimento Hamas em Gaza, tendo sido bloqueado em várias ocasiões por vetos dos Estados Unidos, mas também da Rússia e da China.
A última tentativa de romper o silêncio foi em novembro, sob a administração do democrata Joe Biden, que bloqueou um texto que pedia um cessar-fogo em Gaza.
Para os Estados Unidos, o texto era "inaceitável pelo que diz e inaceitável pelo que omite", explicou a embaixadora interina dos EUA na ONU, Dorothy Shea, antes da votação.
- "Julgados pela história" -
O projeto rejeitado "minaria os esforços diplomáticos para alcançar um cessar-fogo que reflita a realidade no terreno e encorajaria o Hamas", acrescentou, insistindo no direito de Israel de "se defender".
O projeto de resolução "exigia um cessar-fogo imediato, incondicional e permanente" e a libertação incondicional dos reféns em poder do Hamas, capturados no ataque mortal de 7 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.
Também pedia o "levantamento imediato e incondicional de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza e sua distribuição segura e sem obstáculos em larga escala" pelas Nações Unidas.
Após mais de dois meses e meio de bloqueio, Israel começou a permitir desde 19 de maio a entrada em Gaza de um número limitado de caminhões da ONU — um volume que, para a organização, é apenas uma "gota no oceano" diante das enormes necessidades da população do território palestino.
Ao mesmo tempo, a Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), uma organização com financiamento opaco apoiada por Israel e Estados Unidos, estabeleceu centros de distribuição de ajuda que a ONU denunciou como contrários aos princípios humanitários.
Nos últimos dias, dezenas de pessoas morreram nas proximidades desses centros, classificados pela ONU como "armadilhas mortais", pois palestinos famintos são forçados a caminhar "entre cercas de arame", cercados por guardas privados armados.
"Todos seremos julgados pela história pelo que fizermos para deter este crime contra o povo palestino", disse na terça-feira o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour.
Para o representante de Israel na ONU, Danny Danon, a resolução rejeitada "era um presente para o Hamas e corria o risco de encorajar o terrorismo".
Israel enfrenta uma crescente pressão internacional para pôr fim à guerra em Gaza.
D.Davis--PI